Nunca vemos Paris pela primeira vez; Sempre a vemos de novo…
Edmundo de Amicis (1878)
Paris, ah Paris! Visitá-la é como entrar em um mundo a parte, todo o esplendor impresso em seus monumentos, belas avenidas ladeadas pelo charme do Sena, torna qualquer visitante seu amante. Se a Paris que conhecemos hoje já atrai visitantes, por séculos ela acumulou títulos e histórias e se fez presente no imaginário dos pré-turistas que mesmo antes de conhecê-la já sabem um pouco da sua trajetória histórica e moderna. Ainda na antiguidade, sua fama era reconhecida pela nostalgia de ser um lugar de memória, de inúmeras memórias. Onde os grandes líderes trataram de deixar sua marca, a Lutécia, capital dos parisíos de origem gaulesa do fim da Idade do Ferro, já chamou a atenção do imperador romano Juliano por suas qualidades peculiares. Depois foram séculos de mudanças e permanências, sendo a que sai na foto atualmente o resultado de ações de Napoleão II e do Barão Haussman que idealizaram a cidade monumental de hoje.
A cidade de Paris rica em acontecimentos gloriosos, inovadores e inspiradores, nos leva a crer que é impossível contar toda a Historia de Paris em um livro, quem dirá em um blog de viagens. Cada nova visita há inúmeros atrativos para visitar ou rever. É a cidade europeia que mais encanta, por preservar belíssimos monumentos, largas avenidas, belvederes, tudo é grandioso e belo, expõe o auge do seu esplendor. Paris encanta seus inúmeros visitantes, sim são milhares de turistas a visità-lá a cada ano, os atrativos são variados. Desde sentar em um dos seus cafés e contemplar os passantes, como um “flaneur” de Baudelaire ou passar horas em um de seus museus. Afinal, “a cidade dos mil romances” como diza Balzac, possui cerca de 670 praças, 536 fontes, 40.000 monumentos públicos, 2050 cafés, e por ai vai a quase infinita lista de atrativos. Porém, amigos viajantes culturais tenho a missão de lhes fornecer ao menos uma breve noção desta cidade luz e o porque de ela ser a mais visitada por turistas na atualidade.
Antigamente, a cidade ou vila se limitava a Île de la Cité e a margem esquerda do Sena (hoje os 5º e 6º arrondissement, era a região mais habitada pela tribo local, os parisíos. Estavam localizados neste território basílicas, fórum, templos, arena(ver Arena de Lutécia), teatros e banhos públicos(ver Museu de Cluny). Sob o domínio romano, não teve grande importância politica, era somente mais uma “cidade-estado”, chegando a pouco mais de 8 mil habitantes, localizada na província da Gália Setentrional. Quando o imperador Juliano escolheu a cidade como quartel-general em 350, a Lutécia passou a ter uma importância estratégica. Recebeu o nome de “Paris” no século IV, graças ao costume antigo de colocar o nome tribal na principal cidade. Com a queda do Império Romano do Ocidente ao longo do século V, a região de Paris foi sendo dominada pelos francos e iniciou-se uma nova fase, o cristianismo passa a influenciar com mais ênfase a dinâmica da cidade. Inicio da construção de inúmeras igrejas e catedrais para devoção dos inúmeros santos que por ali passaram.
Entramos no medievo, ou “Moyen âge”, período em que os francos merovíngios tornaram Paris sua capital. Estes povos mantem boas relações com o povo parisiense de então e assimilam muito da cultura galo-romana. Os reis merovíngios, tendo início com Clóvis, se estendeu até 751, quando Pepino III, o Breve, depôs os últimos reis merovíngios. Dando início a uma nova fase, em que Carlos Magno, herdeiro de Pepino, decide mudar a capital do seu governo para Aix-la-Chapelle. O protagonismo parisiense é adiado, e uma nova onda de ataques bárbaros, com inúmeras pilhagens e saques, fez com que novas fortificações fossem construídas na Île de la Cité por volta da década de 880, dando lugar as antigas muralhas do século IV.
Somente a partir do século XII, a cidade passou a ter características de grande centro cultural, comercial e de negócios, isto graças a ascensão política e econômica da Dinastia Capetíngia (Luís VI, Luís VII, Filipe Augusto). Com Filipe Augusto, entre 1113 a 1223 novamente a cidade ganha novas muralhas na margem esquerda e direita do Sena até se tornar obsoleta no século XIV quando Carlos V constrói outra muralha). Destas muralhas, sobreviveram somente fragmentos que podem ser vistos em determinados locais em Paris, como na Rue des Jardins-Saint-Paul (4º) no Marais ou mesmo nos subsolos do Museu do Louvre, onde pode-se ver a fundação da fortaleza do Louvre que juntos delimitavam um dos limites da muralha. São vestígios que para os viajantes mais atentos ao caminhar pelas ruas parisienses podem ser uma surpresa prazeirosa.
A ascensão do poder da igreja também se fez presente com a construção de inúmeras igrejas e abadias, dentre elas:
- Abadia de Saint-Germain-des-Prés do séc.XII (a igreja é a mais antiga da cidade – 3 Pl. Saint-Germain des Prés);
- Igreja paroquial de Saint-Sulpice do século XIII (2 rue Palatine, 4ªarrodissement);
- Igreja de Saint-Nicolas-des-Champs
- Abadia de Saint-Martin-des-Champs
- Igreja da abadia de Saint-Denis séc.XII
- Catedral de Notre-Dame na Île de la Cité (sua construção foi iniciada em 1160, próxima a catedral de Saint-Étienne que existia no local e da qual pouco se sabe).
Além do crescimento do comércio, Paris se consolidou no século XIII também como centro de estudos, com a abertura de inúmeros colégios e faculdades, grande parte deles de ordens religiosas. Em virtude disto podemos ver a efervescência de vida acadêmica movimentar bares e cafés da região da Sorbonne até hoje. Fundada por Robert de Sorbon em 1257, o destaque é a capela localizada no Boulevard Saint Michel, de 1635. Os prédios da Sorbonne são resultado de construções feitas no final do século XIX e inicio do XX.
A cidade continuou ao longo da modernidade, em constantes conflitos, enchentes, falta de segurança e uma economia urbana desestabilizada. Nos séculos XIV e XV, o trono francês é contestado, devido a linha de sucessão recair para o Rei Eduardo III da Inglaterra, filho da filha mais nova de Filipe, o Belo ou Filipe IV. Rei francês que dos três filhos homens, nenhum deixou herdeiro varão. Sua filha Isabel casou-se com Henrique II, rei inglês, e consequentemente, seu filho contestou o trono da França repassado para seu primo Filipe de Valois em 1328, sobrinho de Filipe IV. Dando inicio a um longo processo contestatório, conhecido mais tarde como Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Foi um período de incertezas politicas e econômicas, a catedral de Notre-Dame foi palco de coroações que oscilaram entre franceses e ingleses. Tornando Paris francesa novamente, somente em 1436. Porém, os reis quase não permaneciam na capital.
Somente no século XVI, o castelo do Louvre passa a ser mais habitado pela realeza francesa, passa por tantas reformas e mudanças, de rei em rei ele foi sendo alterado e, na pratica, pouco tempo a monarquia morou por ali, tinha mais uma importância estatal. Foi na era napoleônica o auge de ocupação e expansão do palácio, as inúmeras alas reservadas a ele e que hoje podemos visitar nos lembram do quanto ele e seus descentes realmente habitaram e alteraram o lugar. Alias, visitar o museu do Louvre e não conhecer os aposentos napoleônicos, é como ir a Roma e não ir ao Coliseu. (Visita IMPERDíVEL)
Saltando alguns séculos, vemos uma Paris das largas avenidas, bosques e edifícios parecidos e com a mesma cor oficial da cidade, pós revolução francesa (1789) , foi com o barão Haussmann a maior mudança em larga escala da cidade. Para esta empreitada, muita da Paris antiga/medieval se foi e deu lugar a largas avenidas, a modernidade havia chegado. No século XIX, entre 1850 e 1860 a cidade se moderniza aos olhos atentos do mundo que usa seus avanços urbanos como modelo de progresso.
Cidade oferece inúmeras possibilidades de roteiros, seja cultural, gastronômico, esportivo. Se perder por Paris é maravilhoso, pois é prazeiroso vê-la sob diversos ângulos.










